sábado, 26 de maio de 2012

O outro lado da crise

Os jogadores precisam driblar a dificuldade por conta dos salários atrasados.

 

A carreira de muitos atletas profissionais de futebol não é a facilidade que muita gente imagina. Há jogadores que, ao contrário das estrelas que ganham milhões, têm de enfrentar a dura realidade longe dos grandes centros. Em Santa Maria, não é diferente. Mergulhado em uma crise financeira que ganha contornos dramáticos e lutando para sair dela, o Inter-SM é um exemplo da dificuldade que é fazer futebol no interior gaúcho.

Imagine o que passam os jogadores alvirrubros, que estão perto de completar três meses de salários atrasados. O clube pagou uma parcela referente a março na quinta-feira, mas isso não resolveu o problema.

– Vou ser bem sincero. Jogo desde 1998 o Campeonato Gaúcho e nunca havia passado uma situação dessas. O atraso é, geralmente, depois de quatro ou cinco meses trabalhados. Aí, tu consegues fazer um caixa para se sustentar. Mas, aqui, estamos mais ansiosos porque é desde o início – desabafa o zagueiro Darzoni, 34 anos, uma das lideranças do grupo.

Nascido em Santa Maria, Darzoni integra a base de jogadores locais. Ele mora em Camobi com a mulher, Simone, e com os filhos, Maria Valentina, 2 anos, e Vinícius, 14. A reserva financeira já acabou. O zagueiro conta que teve de pedir socorro ao sogro, no nome do qual usou cheques e fez empréstimos para arcar com as despesas.

O meia Vainer, 31 anos, outro com vivência no futebol, mora em Itaara e arca com custos de transporte quase todos os dias para ir à Baixada treinar. Ele se sustenta graças a algumas economias e lamenta não ter um planejamento de quando o dinheiro cairá no bolso.

No alojamento – Os atletas que moram no alojamento também passam por maus bocados. Um exemplo é o volante Rogério Patrola, 33 anos, que abriu mão de ficar com a mulher, grávida de oito meses, em Porto Alegre, para tentar o ganha-pão no Interior.

– Acho que o maior adversário nosso é o atraso dos salários. É o pessoal ligar e te cobrar, porque o cartão está estourado, por exemplo. Imagina como fica tua cabeça? – questiona Patrola, que dribla a falta de salários com empréstimos bancários.

O grupo elogia a estrutura do clube, desde o campo de jogo até as condições do alojamento, equipado com aparelhos de ar-condicionado, internet e TV a cabo. O problema é o atraso no pagamento dos salários mesmo.

Alimentação – Além da questão dos salários, outra queixa partiu do grupo nos últimos dias. Após a derrota por 1 a 0 para o Guarany, em Camaquã, no domingo passado, pela Divisão de Acesso, o zagueiro Morelli, 33 anos, um dos que são de Santa Maria, disse que até alimentação estava faltando para os jogadores.

A convite da diretoria, a reportagem do Diário foi ao Estádio Presidente Vargas, na quarta-feira, e compartilhou o mesmo almoço dos jogadores. Havia variedade de saladas, carne de panela, arroz, feijão e mandioca, além de suco, tudo de boa qualidade.

Segundo alguns atletas, o problema não seria a quantidade dos alimentos, mas a falta de capricho na preparação, como arroz e feijão queimados e almoço requentado na janta.

– Às vezes, eles vêm reclamar que o feijão está ficando queimado, mas é uma vez ou outra. Isso se resolve. E a janta é o almoço que sobra do meio-dia. Até se faz de noite, se falta, arroz ou feijão. Se é feita pouca comida para o meio-dia, falta. Então, se faz bastante para dar para a janta também. O problema é o salário atrasado. E, daí, qualquer coisinha explode – explica o presidente do Inter-SM, Mauro da Silva, que trocou a antiga cozinheira por outra em função das reclamações.

Dentro de campo, a crise respingou na saída de quatro atletas. O primeiro foi o atacante Magno, após uma tentativa de paralisação do elenco, em função dos atrasos, em abril. Depois, deixaram o clube Fabiano Veiga, Tecko e Michel. Em todos os casos, os salários teriam pesado na decisão.

Com isso, o técnico Sérgio Savian conta com um grupo de pouco mais de 20 jogadores. Como há muitas lesões, ele tem de recorrer a jovens da base nos treinos.

Os respingos chegam, também, a outros funcionários do clube. Segundo o zelador Dagmar Borba, que está no clube desde 2007 e mora na Baixada, são cinco funcionários com carteira assinada. Ele está com um mês e meio de atraso nos salários, e a mulher dele, Maria, responsável pelo alojamento do clube, com três meses e meio. O casal mora com a filha de 5 anos. Menos mal que não há despesas com contas de luz e água. Mas é uma situação indesejada.
 
Fonte: Diário de Santa Maria

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